NONA VEZ

  Uma das notícias mais bizarras da semana foi a do morador da cidade de Formosa no estado de Goiás (próxima a Brasília), que armou uma verdadeira traquitana para defender sua casa durante momentos em que estaria ausente e que acabou matando um invasor. Foi indicado por homicídio doloso (aquele em que o autor tem a intenção de matar) e pode pegar até 30 anos de prisão.

  Analisada a informação na forma praticamente instantânea que as notícias nos chegam, parecem mais uma daquelas idéias de um maluco antisocial que acaba vitimando um inocente que por uma infelicidade qualquer estava no local errado na ora errada.

  Mas a coisa não foi bem assim. Quando se toma conhecimento dos detalhes a convicção vai, no mínimo, mudando.

  Segundo consta, a “invasão fatal” seria a nona vez que o ladrão entrava para roubar a casa da vítima. Nona vez. Dá para acreditar?

Vários juristas correram para os holofotes das câmaras de TV para dizer que houve excesso por parte do morador ao repelir a invasão, o que teria sido o mesmo argumento para o indiciamento.

_______________________________________________________

“

...pelas imagens disponíveis (e pelo material usado na armadilha) fica claro que se trata de pessoa bem humilde. Que não tem condição de instalar alarme, cerca elétrica, monitoramento remoto, câmeras de vigilância. E quantas vezes deve ter dado queixa, sem obter qualquer retorno?”

__________________________________________________

  Realmente não dá para ficar incentivando que se faça justiça com as próprias mãos, mas, até que ponto se pode exigir paciência ou comedimento a quem já foi roubado oito vezes? Não localizei informações detalhadas sobre as condições do criador da engenhoca, mas pelas imagens disponíveis (e pelo material usado na armadilha) fica claro que se trata de pessoa bem humilde. Que não tem condição de instalar alarme, cerca elétrica, monitoramento remoto, câmeras de vigilância. E quantas vezes deve ter dado queixa, sem obter qualquer retorno? Após oito roubos, será que mandaram uma viatura para ficar na frente da casa dele?

  Agora vamos fazer um exercício: imaginando uma situação ideal em um mundo perfeito. Vamos acreditar que após as seguidas invasões a polícia encaminhe um de seus representantes para proteger a infeliz residência. E o gatuno volta e começa a forçar a porta... o que faria o policial estando armado dentro da casa? Atiraria também? Ou tentaria convencer o coitadinho que, pela nona vez, entrava na mesma casa para roubar as migalhas que restaram do último arrombamento?

  Numa terra sem lei e ordem, cada um se vira como pode.