domingo, 4 de novembro de 2007

O Leite Derramado



04/11/2007 - 08h05

1/3 do leite brasileiro não passa por fiscalização

http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u342429.shtml

Reportagem publicada na edição deste domingo da Folha de S.Paulo (íntegra disponível para assinantes do jornal e do UOL) revela que, a cada três litros de leite produzidos no Brasil, um, em média, é feito no mercado informal --não passa por fiscalização do governo e não é tributado.

A matéria publicada pela Folha, sobre o já over-noticiado episódio da adulteração do leite toca em um ponto que eu já vinha pensando desde seu início. Nunca fui um ‘mamífero’ ardoroso, mas, como uma boa parte das crianças cresci tomando leite. Não vou repetir aqui aquelas louvações aos tempos de antanho (nossa, forcei...) que têm proliferado pela internet. Você já deve ter recebido algum, não é possível. Bom era pomada minancora, rural willys, cigarrinho de chocolate da pan, etc, etc., etc. Nada contra o clarazil e o telejogo, mas os tempos atuais são muitíssimo melhores. Aquelas músicas que o faziam pensar que era John Travolta levavam pelo menos seis meses para chegar no Brasil. Isso em São Paulo. No interior então nem se fale. Portanto, viva o kaazaa e a caixinha tetrapack. Mas vamos voltar ao leite derramado, porém sem chorar é claro. Como eu disse, quando tomava leite, e se já não o faço não é por causa de nenhum escândalo, era daqueles leites que vinham diretamente do campo, através do leiteiro. Sim, aquele leiteiro da carrocinha branca, de lata. O mesmo cara que ‘pilotava’ a carroça era quem fazia a entrega. Sem qualquer aparato. Sem qualquer – hhuumm que palavra legal – assepsia. Fiscalização zero, nenhuma, nadica de nada. Posso até ter parado de tomar leite, mas como provam essas mal traçadas linhas, não morri. O litro às vezes ficava pra fora de casa, durante a noite, porque o leiteiro via de regra passava de madrugada. A maioria dos recém nascidos tomava esse mesmo leite. Nem por isso nossa população foi dizimada. No fim, como um bom cético de plantão, me parece que todo esse aparato de pretensa limpeza e qualidade tem apenas uma função, aumentar os preços (o tal do valor agregado né!). Essa história de adulteração praticada, emblematicamente em Minas, a terra do leite da época do café-com-leite é uma tremenda canalhice. Daquelas bem brasileiras. Não sei se não procurei direito, mas não tive notícias de qualquer caso de ‘vítima’ do leite. Mas já estou antevendo os efeitos colaterais: uma horda de old-new-wavers, relembrando como era boa a vida nos anos 80. Como é que eu vou contra-argumentar? É isso aí.

Cultura importada: escola comemora o “halloween”

quinta-feira, 1 de novembro de 2007
http://www.diariodeassis.com.br/diario2/principal.asp?data=01/11/2007

Difícil de interpretar a ‘intenção’ real da manchete acima. Com a expressão cultura importada, fica evidente que uma pontada de crítica transparece. Acontece que esse tema passa a se tornar recorrente. Impossível que se passe um 31 de outubro sem que se retome esse tema. Deveríamos ou não aceitar a chamada “cultura importada”? Particularmente não me agrada o ‘dia das bruxas’... Prefiro sim, o Dia do Saci (o mesmo dia 31/10 segundo a matéria), o Dia da Cuca, do Boi Tatá, do Caipora. Mas, afinal, o que é a cultura? Uma peça do Pirandello é cultura? Uma enquete revelaria certamente esmagadora maioria. E isso não seria “cultura importada”? O que não dizer dos clássicos da música? Bach, Beethoven, Verdi, Stan Getz, Carlos Gardel, são ‘cultura’? Se obviamente responderes que sim, concordará que terá ocorrido uma ‘importação’. E o que fazer nesses tempos de internet (ou você fala ‘rede mundial de computadores’?). Você manda um e-mail para seus amigos ou uma mensagem eletrônica? Nesse verdadeiro ‘bobó de camarão cultural’ que é o Brasil, é quase impossível distinguir o que é local e o que é importado. Nesses tempos globalizados pior ainda. Então qual seria a solução? Não encontro uma resposta absoluta, fechada, mas meu radar aponta para a divisão das culturas. A cultura mundial, aquela que, quer pela dominação econômica, quer pela indiscutível qualidade (quem pode dizer o que é qualidade?) se estabeleceram. Sobra então a cultura regional ou local, que passa a ser aquela que ainda não transcendeu as bordas de onde surgiu, somente o fará se atingir as condições da anterior. Fundamental é que prevaleçam as duas, e que tenhamos dispositivos para manter preservadas, na medida do possível as regionais e locais, para que não fiquem perdidas como uma Atlântida. É isso aí.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Seu Jorge e a grande mídia


Seu Jorge, apesar de ainda praticamente desconhecido do grande público, tem se tornado Digno de Nota, por ser uma das poucas novidades surgidas no cenário musical brasileiro e estar impermeável às obviedades de sempre. Tem se vinculado a ações interessantes e inovadoras, como a campanha para a Cachaça Sagatiba na rede mundial ( www.sagatiba.com ). Ao lançar mão de elementos da música essencialmente brasileira como os sambas de partido alto, anexando a eles toda a cultura tecno, sem cair na vulgaridade do funk carioca, demonstra que, sim, existe novidade na música brasileira depois do banquinho e violão da bossa nova. É isso.