domingo, 21 de novembro de 2010

CINEMA MUDO


Consta do folclore político local, que um determinado candidato a prefeito, ao ser questionado sobre quais seriam suas propostas para a cultura, teria respondido: “juntar com a Difusora e fazer uma ‘radiona’ só!”. Piadas a parte, a opinião expressada demonstra, de modo geral, o tradicional pensamento político nos assuntos ligados à cultura.
A cultura nas administrações municipais, com raras exceções, foi sempre relegada a um terceiro ou quarto plano, leia-se, um apêndice, muitas vezes encarado como um setor que apenas gasta dinheiro.
O que me traz ao tema é a informação corrente de que a Fundação Assisense de Cultura, a FAC, órgão responsável pela gestão da política cultural no município irá “devolver” R$ 200.000,00 ao caixa central da Prefeitura, dinheiro esse que teria sido economizado do orçamento durante o ano de 2010. Não sei se o fato vai realmente se concretizar, até porque ainda temos quase 45 dias para o fim do ano. E seria até louvável, após nos acostumarmos a ouvir notícias de todo o Brasil, do péssimo tratamento que o dinheiro público recebe de seus gestores.         
Na minha opinião, o dinheiro público, como qualquer dinheiro aliás, não é capim e, portanto, não deve ser desperdiçado.
Mas também não é como o meu, o seu ou o dinheiro da sua empresa, que recomenda-se seja poupado para o futuro. O dinheiro público destacado no orçamento anual, deve ser bem gasto, gasto corretamente, mas deve ser gasto.
Até porque, o que temos em termos de investimentos na área cultural, senão a manutenção cosmética de alguns dos prédios públicos sob os cuidados da FAC? Um dos museus tidos como referência nacional em termos da arte primitivista, o MAPA, Museu de Arte Primitiva de Assis, se não está fechado de fato, o está praticamente. O Museu Histórico de Assis, a “Casa de Taipa”, está fechado há mais de 5 anos, e, apesar de ter passado por uma reforma considerável é utilizado uma única vez por ano, com a Festa do Folclore, iniciativa aliás que deveria ser talvez até ampliada.
Sem falar no cinema municipal, que deveria ser encarado como uma verdadeira jóia da coroa, face a brutal extinção que este tipo de diversão e arte tem experimentado no mundo todo e cuja resistência, aqui é motivo de orgulho para os assisenses. E que apesar dos esforços isolados de seus entusiastas apresenta deficiências relativamente  simples de serem sanadas, como a qualidade do som e que, entra ano e sai ano não temos uma solução mais, digamos, definitiva. O problema é minimizado com os filmes estrangeiros, porque aguçamos nossa visão para ler as legendas e deixamos a audição em segundo plano. Mas dentro de alguns dias está prevista a estréia de Tropa de Elite 2, aclamado como um dos principais filmes nacionais de todos os tempos, e daí? 
Esticar as verbas orçamentárias tem sido um malabarismo comum para aqueles gestores públicos submetidos ao “cobertor curto”. Mas se com esses pequenos exemplos de necessidades e ainda assim “sobrar” dinheiro, não é cultura que está faltando, é senso de priorização. É isso aí.

12 comentários:

Anônimo disse...

"anônimo one" - Também acho que o Cine Piracaia deve ser "mais arrumado". Nossa cidade teve um histórico positivo nesta área, chegando a ter 03 cinemas. Errou quem achou que o cinema, como entretenimento, fosse acabar. É só ver os grandes lançamentos e investimentos que estão ocorrendo. Só mais uma coisinha: esse nome de cinema é meio estranho... Piracaia? Tudo bem, foi um músico da cidade, etc. Acho que seria mais apropriado para um Centro Cultural.

Anônimo disse...

Quanto ao espaço físico, apesar de ultrapassado, é bem interessante, pois mostra um pouco da nossa história, um saudosismo gostoso de quando éramos adolescentes...Cine Pedutti, comer Mentex...rsrsrrs
O que é difícil é não atualizar, realmente o som está péssimo, não alcança a dimensão do espaço e deixa muito a desejar. Ontem em "Tropa de Elite" foi uma pena, pois os efeitos que deveriam reforçar ainda mais a ação do filme, se perderam num som abafado e quase analdível. Que pena!!!

Anônimo disse...

é devolvendo dinheiro, é que Assis ja tem varios espaços culturais né, esperamos q essa mudança na administraçao municipal seja feita e pra melhorar nossa querida Assis. Parabens Saulo pelas postagens.

Anônimo disse...

Saulo,
Deve ser muita coincidência, mas esse assunto foi pautado na roda de conversa de final-de-semana. Estávamos descomprometidamente discutindo problemas, novas possibilidades e caminhos para cultura da nossa cidade.
Muito bem observado que uma das poucas opções de lazer e cultura que ainda resta em Assis é o Cinema Municipal. Mas as instalações e conservação estão péssimas. Os filmes em Cartaz, com horários das sessões, sequer estão à mostra (verdadeira desinformação ao público), escondendo-se timidamente nas vitrines laterais, parece até uma proposta para não mostrar a vergonhosa e ultrapassada estrutura local. Teatro? Muito tímidas as iniciativas de se trazer boas companhias de teatro. Sim, temos algumas peças em cartaz, mas convenhamos, queremos peças de mais qualidade! Ou apresentações de músicos. Santa Cruz do Rio Pardo, uma cidade com cerca de 40 mil hab, dá o exemplo, fazendo a Feira do Livro. Apresentações musicais de muita qualidade como "O Teatro Mágico" também aconteceram recentemente por lá. Museus? Nossa história está (quase) totalmente abandonada (MAPA, Casa de Taipa...). Acho até que nosso povo está ficando sem memória...A FAC e a Prefeitura devem rever urgentemente a administração que estão fazendo, pois vejo parte da população indo para Londrina e Marília nos finais de semana, no anseio de conseguir mais opções culturais. Para Assis, essa "migração dos finais-de-semana" é negativa por vários ângulos: porque seus cidadãos ficam um pouco menos interessados e entusiasmados por sua própria cidade; e porque geram mais empregos e aquecem a economia local das cidades vizinhas. A boa e adequada utilização de verbas municipais pode ser um grande começo para mudarmos este triste cenário. Mas não seria o bastante. FAC e Prefeitura já demonstraram que sozinhas, não tem capacidade de fazer grandes eventos culturais para nossa população. Não tem gente capaz de fazer uma revolução cultural, tão necessária. Se é assim, então que ao menos tenham respeito à nossa gente e mudem este quadro. A solução viria de ações de fomento e mobilização da iniciativa privada na execução das políticas de desenvolvimento cultural, e principalmente na parceria com as nossas Universidades e Faculdades.
Ou seja, mais incentivos e benefícios municipais para que a iniciativa privada pudesse participar ativamente de um movimento cultural, bem como parcerias municipais com instituições de ensino, principalmente com a FEMA (FUNDAÇÃO Educacional DO MUNICÍPIO de Assis).
Ao que tudo indica, a administração municipal está na chamada "zona de conforto". Também na área da Cultura.
Muito pertinente o tema no blog, que deve ser debatido com seriedade pela comunidade. Arnaldo Antunes já disse, "A gente não quer só comida/ A gente quer Comida, Diversão e Arte". E urgente!

M. CITOYEN

Saulo Ferreira disse...

“Anônimo One”,
É isso aí, essa é exatamente a motivação desse espaço, ou seja, levantarmos questionamentos. Obrigado por sua assídua participação. Até a próxima.

Saulo Ferreira disse...

“Anônimos das postagens das 22:28 e das 11:07” (putz, vocês estão complicando a minha vida para responder heim? Nas próximas inventem um apelido pra facilitar a resposta, hehe). Temos que avaliar e talvez repensar os espaços públicos, de um modo geral, o que espero, possa vir fazendo paulatinamente. A idéia é essa, levantar a discussão e forçar uma reflexão. Continuem participando. Até.

Saulo Ferreira disse...

M. CITOYEN
É impossível que as coisas mudem para melhor se ficarmos inertes. A opção pelo “arroz-com-feijão” só se justifica quando a colocamos como um degrau para atingir um patamar superior. Não podemos confundir a simplicidade com mediocridade. Os “Pacatos Cidadãos” de Assis merecem um pouco mais de “tempero”. Continue participando. Até a próxima.

Anônimo disse...

RESPEITÁVEL PÚBLICO !!! Enquanto a *cultura*for *coisa de comadre*....só podemos assistir este espetáculo...

Anônimo disse...

Hehehehe, muito boa, Saulo. O pior é que nossa realidade não está muito longe da história da "Radiona". Não, não, é muito pior...
No site da prefeitura podemos ver o que a FAC: "A FAC se tornou um órgão oficial da Cultura da Cidade, responsável em promover, incentivar e amparar o desenvolvimento e a difusão das atividades artísticas e culturais do município e dar continuidade aos projetos, realizações de eventos, cursos etc., criando e adquirindo novos espaços para o enriquecimento cultural da comunidade através de suas unidades".
Pergunto: que projetos? que eventos? que cursos? que atividades artísticas? como vc mesmo informou, está tudo tão bom q até "sobrou" verba! HOLOFOTE NELES, SAULO!
"Luca"

Gustavo disse...

Parei de visitar o Piracaia desde janeiro porque fiquei abismado com a baixa qualidade do áudio. Concordo que sejam necessárias atualizações, para o bem do próprio cinema, que tem um bom espaço, uma tela avantajada e uma programação diferenciada.

Na torcida para que consigam verbas para melhorar nosso cinema municipal.

Edilson Orlando disse...

Saulo:

Parabéns pelo Blog. Fui assistir o Tropa de Elite no cinema. É de dar dó. Filme interessante, bom público, mas o som... Não da nem para recomendar aos amigos.

Anônimo disse...

"anonimo one" - Bom, depois de tudo que li, acho que não vou ver o Tropa de Elite no Cine Piracaia.